terça-feira, 11 de novembro de 2008

A Primeira Impressão Não é a Que Fica




No domingo cheguei em casa do trabalho e eram quase 11 horas da noite.
Eu havia deixado um bilhete para o G na mesa da cozinha, dizendo que eu tinha uma pergunta para ele sobre o seguro desemprego. No bilhete pedi para ele deixar um recado no meu celular dizendo se ele ia tirar uma soneca a tarde ( depois de ir a igreja com a Dondoca) ou se ele ia estar acordado para que eu pudesse ligar para ele na hora do meu lunche.
Ele não me ligou o que não comum da parte dele, e eu já comecei a ficar preocupada. Quando cheguei em casa ele já estava dormindo.

Tomei banho, comi um sanduiche, assisti um pouco de tv e fui deitar.. Deitada, quando fui apagar a luz escutei o G se mexendo na cama.
O G falando do quarto dele: - E ai, está tudo bem no teu trabalho?

Eu – Foi tudo bem. Estava tranquilo.

G – Voce não teve problemas?

Eu – Não. Estava até divertido. ....... Bom, na verdade eu tive um problema com uma garota. Ela foi indelicada comigo na frente do cliente, e indelicada com o cliente.

G – O que aconteceu?

Depois que eu contei o que aconteceu, eu fiz esse comentário.

Eu – Sabe que a impressão que eu tive, é de que ela estava esperando que eu falasse alguma coisa para ela, só para ela me dar uma “patada”. Desde a semana passada eu reparei que ela é a única que não fala uma única palavra comigo.

G – Honey, eu vou te falar uma coisa, a sua aparencia é o oposto do que voce é. Por isso que as vezes as pessoas que não te conhecem se sentem intimidadas perto de voce.

Eu sei exatamente o que ele estava dizendo, eu cheguei a mencionar para ele, anos atrás, um trauma que eu tenho da minha adolecencia.
Meu pai sempre tentou nos dar conforto financeiro e paz de espirito. Nós estudamos nas melhores escolas de São Paulo (Dante Alighieri, Iade, PUC e Mackemzie) e frequentavamos o Ilha Porchat Club que era considerado um club de elite da Baixada Santista (isso na decada de 60 e 70, em meados da decada de 70 o club entrou em decadencia e meu pai vendeu o titulo).
Moramos na Aclimação, depois mudamos para São Vicente (um apartamento de 4 dormitorios e 5 banheiros!!! com uma vista linda para o mar), em meados da decada de 70 voltamos para São Paulo e fomos morar na Vila Nova Conceição.
No Ilha Porchat Club havia um bar num dos salões, que era gerenciado por uma familia composta do marido, a esposa e dois rapazes. Eu achava super legal aquela familia trabalhando junta, uma coisa que eu gostaria de ter. Hoje pensando sobre eles, eles trabalhavam 6 dias na semana e nem sei por quantas horas por dia. Um dia sem motivo nenhum da minha parte para ofende-lo, um dos rapazes virou para mim e disse:
Se voce pensa que voce é melhor do que nós, voce não é. Voce com toda essa arrogancia...........” e continuou falando o que ele pensava de mim, mas eu travei e não escutei mais nada, nunca entendi o porque daquele odio dele por mim. Aquele acesso de raiva contra mim. Eu tinha 12 ou 13 anos de idade, sempre tratei ele super bem, nunca falei nada que pudesse ter ofendido ele.
Nunca esqueci esse rapaz e o odio dele por mim.
Anos e anos depois eu entendi que eu representava tudo o que ele não tinha. Os 3 meses de férias na praia, o bronzeado de sol, o dinheiro da mesada que meu pai me dava para gastar no bar do club e na praia (que não era muito), eu me divertindo e ele trabalhando.

Quando eu decide mudar para os EUA, na entrevista no consulado americano no Rio de Janeiro, eles me falaram que eu dificilmente conseguiria um trabalho na minha area (Arquitetura), que eu provavelmente ia acabar lavando louça num restaurante ou limpando quartos num hotel. O entrevistador me perguntou: - “Voce sabia disso? Voce vai aguentar esse tipo de trabalho?” E eu respondi com raiva: - Logico que eu sei disso! Voce não me conhece eu não vou ter problema nenhum, é um trabalho como outro qualquer.”
Mudei para cá e o meu primeiro emprego foi de maid num hotel de luxo em Palm Beach (limpando quartos dos hospedes). No meu primeiro mês trabalhando eu achei divertido, mas ficava com aflição de limpar a sujeira dos outros. Mas, quando recebi meu primeiro pagamento por uma semana de trabalho que era o equivalente a um mês de trabalho no Brasil........ todas as minhas preocupações desapareceram. Acabei sendo diretora do departamento e odiei. Detesto ter poder e ter que lutar para manter o poder. Sempre ficava do lado dos meus funcionários, na hora que as pessoas começavam a puxar tapete e enfiar facas nas costas dos outros.
Hoje trabalho em atendimento ao cliente num supermercado de produtos naturais e organicos onde gente com muito dinheiro e habitos saudaveis para comer fazem compras. Adoro o meu trabalho. Ganho metade do salario por ano que eu ganhava, mas tenho paz de espirito e me divirto fazendo o meu trabalho.
O vice-presidente de uma companhia que eu trabalhei por 10 anos aqui, me disse uma vez, que a coisa mais importante na vida é gostar do que voce faz, se divertir fazendo o seu trabalho, e me disse que quando o trabalho vira uma preocupação e voce não se diverti mais, voce tem que cair fora, mudar de profissão, mesmo que voce tenha que recomeçar, é melhor do que se desgastar por causa do trabalho.

Enfim o que o G me disse eu já sabia e é dificil lidar com a primeira impressão que as pessoas tem de voce, porque no meu caso a primeira impressão não é a que fica.
Mas é por isso que a Dondoca se senti intimidada na minha presença, nesse caso eu mantenho a minha postura de superioridade. E de certa forma (eu não sou perfeita) eu gosto de ver que ela tem medo de mim.

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